quarta-feira, 15 de junho de 2011

Ensino Vocacional

Trabalho realizado pela Camila Teresa, vídeo explicando o Ensino Vocacional.

http://www.youtube.com/watch?v=yks2dpMK3Yc

Vale a pena dar uma conferida.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A história das instituições entre arquivos e memórias. A Escola Normal do Porto (1882-1986)

Palestra:


A história das instituições entre arquivos e memórias. A Escola Normal do Porto (1882-1986)
Professora Drª Margarida Felgueiras (Universidade do Porto)


Data: 07/6/2011 às 14h00
Local: Auditório da FEUSP

ementa: O evento é de responsabilidade do Centro de Memória da Educação da FEUSP, e será coordenado pela prof. DrªCarmem Sylvia V Moraes. A palestra será proferida pela professora Margarida Louro Felgueiras (Univ. do Porto) e intitula-se "A história das instituições entre arquivos e memórias. A Escola Normal do Porto (1882-1986)". A professora tem desenvolvido importantes pesquisas em Portugal com destacado conhecimento na área de história da educação e preservação do patrimônio escolar.

- Não será necessário inscrição prévia e será fornecido certificado de participação.

informações:
cmeusp@usp.br
(11) 3091-3194

terça-feira, 12 de abril de 2011

A história da educação paulista

Publicado no OESP de ontem.

Arquivo virtual 'Memória da Educação' relata, por meio de 25 mil imagens, cotidiano escolar de 1842 a 1945; ideia é democratizar acervo

Mariana Mandelli - O Estado de S.Paulo

Nas fotos amareladas, algumas quase apagadas, retratos em preto e branco da ciranda no recreio, da fila de crianças no pátio e das aulas de costura, de música e até de esgrima. Não há sinal de celulares, computadores ou materiais escolares descolados, cheios de cores e de personagens dos desenhos animados. São relatos em imagens que narram o cotidiano escolar de mais de um século atrás.
Um pouco da história do sistema de ensino paulista agora está também na internet. O site temático Memória da Educação, que conta com parte do acervo do Arquivo Público do Estado, foi abastecido com documentos inéditos dos municípios de Campinas, Araraquara, Casa Branca, Guaratinguetá e Santa Cruz do Rio Pardo. São, principalmente, fotografias e relatórios. Ao todo, a página tem 25 mil documentos digitalizados - ou 90 metros lineares.
O Memória da Educação (www.arquivoestado.sp.gov.br/educacao) é a primeira experiência neste formato do arquivo estadual, utilizando diferentes acervos para tratar de um mesmo tema. O documento mais antigo disponível no site é de 1842. Já o mais "recente" data de 1945.
"A ideia é democratizar o acesso à documentação e permitir que o público conheça um pouco do passado, da época em que a educação era um privilégio de poucos", conta Carlos Bacellar, coordenador do arquivo. Segundo ele, a documentação também é fonte de pesquisas acadêmicas e motivo de interesse pessoal de quem quer relembrar o passado.
O site deve ser atualizado periodicamente. Entre as preciosidades encontradas está um ofício de 1858 sobre a dificuldade em achar docentes bem qualificados para lecionar as disciplinas obrigatórias.
Do acervo, 4 mil documentos são imagens e ilustrações. Há também 64 relatórios das Delegacias Regionais de Ensino do Estado, que trazem à tona as questões pedagógicas e administrativas dos períodos - é possível saber, por exemplo, quantos funcionários e quantas matrículas tinham os colégios de cada região.
Há vários casos em que as informações sobre eles são escassas. Um arquivo de 1908, por exemplo, chamado "Album de Photographias Escola Normal e Anexxas de São Paulo - 1908", não reúne somente fotografias do colégio que, mais tarde, transformou-se na ilustre Escola Estadual Caetano de Campos e hoje funciona como sede da Secretaria Estadual de Educação, na Praça da República, centro. Acredita-se que o álbum contenha também figuras de outras escolas, ainda não identificadas.
Detalhes. Mas a história da educação paulista se revela mesmo além dos documentos oficiais: são as páginas de avaliações e trabalhos das crianças que dão o testemunho do aprendizado da época. Com a caligrafia rebuscada, cheia de curvas, a prova de Maria Carolina Marins é um exemplo. Na capa, a seguinte inscrição, com o português da época: "Provas escriptas da alumna do 4.º ano do Grupo Escolar Antonio Padilha em Sorocaba". A data? 3 de dezembro de 1896.
O documento, que termina com o desenho de uma rosa dos ventos colorida, contém as provas de "Physica", "Botanica", "Mineralogia", "Historia do Brasil", "Francez", "Chimica", "Arithmetica", "Geographia", "Geometria Pratica", "Zoologia", "Grammatica", "Musica" e uma redação dedicada a seu pai.
Outra curiosidade é o mapa da antiga escola Joaquim Mariano Lobo, de 1852, que lista 21 alunos. Ao lado dos nomes, as colunas revelam as idades - entre 6 e 10 anos -, os responsáveis, o número de faltas e o que o os alunos sabiam antes de ingressar no colégio, bem como o que conseguiram absorver do conteúdo até aquela data. João Estevão, de 9 anos, por exemplo, só sabia soletrar. Já Francisco Rodrigues, de 8, ingressou sabendo apenas o "ABC" e, em abril, já sabia ler, escrever e multiplicar.
Além da prova de Maria Carolina e do mapa, outros documentos também revelam como, em 170 anos, o sistema público de ensino do Estado se modificou. Os especialistas em história da educação brasileira lembram, para explicar as transformações, que a escola pública nasceu elitizada, com exames de admissão que privilegiavam os filhos de famílias ricas. "Essa escola é um fenômeno do começo da República , que não se preocupava em democratizar o ensino", conta Bruno Bontempi Júnior, professor de História da Educação da Universidade de São Paulo (USP).
As aulas de esgrima, costura e música que estão retratadas nas fotografias são, segundo a professora Leda Rodrigues, da Pós-Graduação em Educação: História, Política, Sociedade da PUC-SP, imagens de um tempo em que não existia uma estrutura curricular consolidada e em que a mulher tinha outro papel. "Ela tinha de aprender ofícios ligados à família", afirma.
A própria universalização do ensino provocou mudanças na grade curricular. Conforme a demanda por escola aumentou - especialmente com a classe operária que surgiu com a industrialização paulista, por volta de 1930 - a expansão do ensino público foi forçada a ocorrer. "Mas os investimentos não acompanhavam o processo com a qualidade necessária", explica Bontempi. "Assim, com a expansão do ensino privado, a classe alta migra para o sistema particular."

CRONOLOGIA

Da monarquia à república
1808 a 1860

A primeira lei
Dom João, que veio com a corte portuguesa para o Brasil em 1808, incentiva a formação de professores e a instrução primária. Em 1827, é instituída a primeira Lei Geral da Educação Pública no Brasil Independente, que regulariza o ensino mútuo obrigatório. Em São Paulo, a primeira lei surge em 1846, regulamentando a educação primária e criando a escola normal masculina.

1860-1900
O ideal republicano
Com a Constituição Republicana, em 1890, ocorre a separação entre a Igreja e o Estado, o que promove a educação laica. Em São Paulo, o período é marcado pelas reformas de ensino primário e normal e pela organização de uma rede de escolas normais e complementares. A Escola Normal, de 1846, que se torna a Caetano de Campos mais tarde, é dessa época. Surgem também as escolas profissionais oficiais e os liceus.

1900 a 1930
Organização do sistema
O crescimento da população e a vinda de imigrantes, efeitos da produção do café e da industrialização, aumentam a demanda por educação. Surge a intenção de erradicar o analfabetismo e expande-se o número de escolas preliminares, noturnas, isoladas (tanto rurais quanto urbanas) e também profissionais. Disciplinas como educação física, intelectual e moral são incentivadas, bem como o escotismo, a música, o rádio e o cinema. Em 1918, o recenseamento mostrou que menos da metade das 480.164 crianças entre 7 e 12 anos frequentavam escolas.

1930-1964
A primeira LDB
Em 1932, surge o manifesto em defesa da escola pública obrigatória, leiga e gratuita. Em 1933, a escola normal de São Paulo é elevada a curso superior e vira Instituto de Educação Caetano de Campos. Em 1961, é aprovada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que propõe a equivalência dos ramos do ensino médio – técnico e secundário.



segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Memória escolar

Site da Professora Dra. Ana Cristhina Mignot, sobre projetos de memória escolar.
 http://www.escolaememoria.com.br/index.html

Diversão escolar

Joguinho com temática escolar para relaxar:



Documentos históricos deixados em sacos de lixo são restaurados em SP

Documentos históricos deixados em sacos de lixo são restaurados em SP
Especialistas tentam recuperar parte do acervo do Museu Maçônico, do Rio. Acervo conta a história da Ordem e também do Brasil Império.

Carolina Iskandarian. G1 SP

Documentos que contam sobre a Maçonaria foram destruídos por traças, cupins e pela má conservação

Há um ano, quando pisou no Museu Maçônico do Palácio do Lavradio, no Centro do Rio, com a incumbência de recuperar o acervo, o restaurador Tércio Gaudêncio não tinha ideia de que seu trabalho seria muito maior. Até hoje, ele revira os sacos de lixo onde foram despejados livros e documentos históricos. A maioria traz informações sobre a Maçonaria e o Brasil Império. Gaudêncio conta que, se não tivesse passado pelo depósito do prédio, não teria esbarrado naquele “tesouro”, que agora passa por restauro em São Paulo.
“Estava tudo em 251 sacos pretos de lixo de cem litros. Sem saber o que tinha dentro, fomos abrindo documento por documento e começamos a descobrir coisas fantásticas”, diz o restaurador em sua oficina, na Zona Sul da capital paulista. Entre os documentos recolhidos, o especialista, dono de uma empresa de restauração, aponta raridades. Ele calcula que trouxe em três caminhões para São Paulo cerca de 17 mil documentos, sete mil livros, 30 gravuras e 13 quadros.
Uma das raridades é um decreto do rei português D. João VI, datado de junho de 1823, com, entre outras, a seguinte ordem contra os maçons: "todas as sociedades secretas ficam suprimidas (...) e nunca mais poderão ser instauradas". No acervo, há ainda atas de reuniões da Maçonaria no século 19 e documentos sobre a proclamação da independência do Brasil.
Agora bem guardada em uma caixa está uma Bíblia, que, segundo Gaudêncio, é de 1555 e foi escrita em aramaico, grego antigo e latim medieval. “D. Pedro I ganhou quando se casou. Só existem três edições desta no mundo”, afirma ele sobre a raridade. A publicação ficava exposta aos visitantes em uma vitrine, o que não impediu o estrago. “Jogaram a capa original fora e colocaram outra com uma cola muito ruim”, conta Ruth Sprung Tarasan, uma das coordenadoras do trabalho de restauro.

Irregularidades
Marcos José da Silva, o grão-mestre geral do Grande Oriente do Brasil (ao qual estão subordinadas muitas lojas maçônicas no país), admitiu ao G1 que o prédio onde fica o museu não está em boas condições e sofre com infiltrações, cupim e mofo, entre outros problemas. Ele disse não saber por que parte do acervo estava em sacos de lixo e atribuiu à “falta de uma pessoa habilitada” o fato de o material ter sido acondicionado daquela maneira.
“É desconhecimento, falta de uma pessoa habilitada. Durante muitos anos o acervo não teve a manutenção devida, verificamos em que estado ele estava e resolvemos enfrentar o desafio”, contou ele, sem revelar quem cuidava do museu e quanto custará o trabalho de restauro das peças e de reforma do prédio. A organização, que tem sede em Brasília, assumiu a direção do local em setembro de 2009.
Silva disse preferir acreditar que os livros e documentos históricos não iriam para o lixo. “Acredito que estavam ali para futura apreciação.” As obras começaram em março de 2010 e ele não deu previsão de término.

Da Maçonaria
Por ser maçom e ter muita experiência no ramo, Gaudêncio assumiu a restauração de parte do acervo do Museu Maçônico, o primeiro da categoria na América do Sul. Enquanto ele se debruça sobre livros e papéis destruídos por traças, cupins e mofo, o prédio do museu na capital fluminense passa por reformas.
Parte do material que está sendo recuperada estava nos sacos plásticos pretos. “Ia tudo para o lixo. Dá para imaginar quanta pesquisa a gente podia fazer com isso?”, questiona Ruth, que também é historiadora. “Sou obrigado a ler os documentos e começo a cair de costas porque a história dos livros não é a mesma. Aqui, tenho os originais dos grandes maçons da época. E só quem é da Maçonaria pode mexer nisso”, ressalta Gaudêncio, entusiasmado com o trabalho que teve início em 2010 e que pretende entregar no segundo semestre deste ano.
O processo de restauração inclui encadernar os livros, recuperar o papel destruído e retocar a tinta das palavras. Para garantir a perpetuação do material, Gaudêncio e sua equipe digitalizam o que conseguem salvar. “Já temos 14 mil documentos digitalizados”, diz ele. O G1 esteve no escritório de Gaudêncio e viu quando a restauradora Ana Maria do Prado tentava recuperar a cor original de dois quadros: o do general Osório e do visconde de Sapucaí.
“O desenho tem muito retoque. Muita gente mexeu; o verniz está oxidado”, revela Ana Maria, que põe na ponta do pincel uma tinta especial para restauradores. “Ela é reversível. Sai com qualquer solvente e não ataca a pintura original”, explica. “Hoje em dia, tudo tem que ser reversível. Não se sabe o que vamos achar daqui a 20 anos”, completa Ruth.
De acordo com Luiz Alberto Chaves, integrante do Grande Oriente do Brasil em Brasília, o prédio do museu na Rua do Lavradio foi comprado em 1840 e passou por dois anos de reformas. Foi sede da Maçonaria até 1978, quando houve a transferência para Brasília.



Maçonaria e a Independência
Apesar de o imperador D. Pedro I ser da Maçonaria, para a professora de história Miriam Dolhnikoff, da Universidade de São Paulo (USP), ele não foi tão influenciado pelos maçons quando declarou a independência do Brasil em 1822. “A Maçonaria não teve toda essa importância no processo de independência. Ela era um espaço de debate político entre outros espaços”, explica Miriam.
“Ele (D. Pedro I) foi maçom porque na época todos da elite eram”, completa a professora. Segundo ela, a Maçonaria defendia que o Brasil deixasse de ser colônia portuguesa, por isso, as críticas do rei D. João VI ao movimento.



Restauro Maçonaria (Foto: Carolina Iskandarian/ G1)
Restauro Maçonaria (Foto: Carolina Iskandarian/ G1)

Documentos são achados em sacos de lixo (Foto: Divulgação/ Tércio Gaudêncio)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A discriminação contra os obesos

Pedro Toledo: A discriminação contra os obesos

via Leandro Rodrigues

CARTA ABERTA AOS SECRETÁRIOS DA EDUCAÇÃO E DA GESTÃO PÚBLICA DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Caros Secretários Herman Jacobus Cornelis Voorwald e Julio Semeghini,

Meu nome é Pedro Ramos de Toledo e venho por meio desta missiva externar meu profundo desagrado com a posição do Governo do Estado referente aos professores obesos aprovados em concurso da Rede Estadual de Ensino. Após um ano e meio de processo seletivo, no qual fomos submetidos a duas provas eliminatórias e a um curso de formação com avaliações semanais, vemo-nos surpreendentemente proibidos de exercer a profissão de professor, um sonho para muitos de nós.
Sou obeso e, como muitos outros que sofrem da mesma condição, também fui considerado inapto para exercer o magistério. A pessoa obesa sofre cotidianamente com a discriminação social. Somos considerados feios, preguiçosos e mal-ajambrados. Não raro o obeso é motivo de piadas ao tentar passar por uma catraca ou uma porta giratória, ou mesmo vítima de hostilidade ao ser obrigado a se esgueirar no meio da multidão em estabelecimentos e transportes públicos lotados. Estamos sujeitos a conviver diariamente com troças, forma debochada de desprezo e, diferentemente de outras “minorias”, encontramo-nos em condição especialmente vulnerável, pois não contamos com entidades de defesa de nossos direitos civis ou campanhas de conscientização contra o preconceito.
Se o quadro já é desolador, o Poder Público do Estado de São Paulo, na contramão das políticas inclusivas que alicerçam a luta dos Direitos Civis em nosso país, decide limitar a cidadania de todo um grupo social, tornando-nos, aos olhos do mundo, cidadãos de segunda classe. A exclusão de obesos na avaliação do Departamento de Perícias Médicas é uma afirmação categórica de concordância com todos os estereótipos preconceituosos com os quais os obesos são estigmatizados. Legalizou-se a discriminação.
Caros Secretários, até o momento as desculpas dadas pelo Poder Público são pífias. Afirmar que tais laudos se sustentam exclusivamente em critérios médicos é de uma pobreza intelectual atroz. Foucault já chamou a atenção para o papel disciplinador e coercitivo dos discursos “científicos”, que foram utilizados seguidas vezes, ao longo da História, como “fatos irrefutáveis” para justificar as mais diversas atrocidades. Hoje o “gordo” é a bola da vez. Mas, não faz muito tempo, os mesmos médicos e cientistas diziam – amparados por dezenas de “pesquisas sérias e quadros estatísticos” acima de qualquer suspeita – que os negros, índios e povos mestiços eram geneticamente inferiores aos povos nórdicos. Tal afirmação tornou-se um regime de verdade que sustentou pavorosas políticas de embranquecimento e deu fôlego para doutrinas eugenistas por todo o mundo. Sob a máscara da neutralidade científica, regimes de verdades essencialmente reacionários puderam se infiltrar nos aparatos coercitivos da sociedade e justificar práticas abertamente preconceituosas. O que ocorre agora é exatamente o caso.
Diversos obesos têm relatado situações de constrangimentos e humilhações durante a perícia médica: Uma professora, ao ser avisada que reprovaria no exame, já sob forte tensão, foi obrigada a ouvir um sermão sobre “como ela estava deformando o seu corpo”; outra, após explicar que engordou ao ter dado a luz ao seu primeiro filho, ouviu como resposta que “ela comia como se ainda estivesse grávida”. Eu mesmo fui obrigado a ouvir que “ninguém quer um funcionário balofo como você”. Este é o nível dos profissionais que nos vem julgando. Subterrâneo.
Não faço aqui uma apologia da obesidade, Secretários. Sei dos riscos à saúde que a obesidade traz, bem como do desconforto em que vive o obeso. No entanto, é lamentável que minha capacidade profissional seja sumariamente desqualificada por ser “balofo”. É humilhante ser tratado como um incapaz. É aviltante ser vítima de preconceito. As Secretarias perderam uma excelente oportunidade de começar a mapear, através do Departamento de Perícias Médicas, servidores com problemas de peso para oferecer-lhes oportunidades de tratamento. Ao invés, preferiram cortar fundo com a navalha da exclusão. Esse episódio grotesco mostra como um regime de verdade científico pode agir como ferramenta de opressão e preconceito. Mais um episódio a figurar entre incontáveis medidas que caracterizam a péssima relação entre a atual administração e os profissionais da educação.
Mesmo o discurso que parte do ponto de vista da boa administração é patético. Se é do interesse público vetar pessoas obesas de ingressar no funcionalismo estadual para não assumir riscos de afastamentos e custeio de possíveis futuros tratamentos para os professores admitidos, tal interesse também deveria abarcar fumantes, idosos, pessoas estrábicas, hipertensos, anoréxicos, soropositivos, portadores de necessidades especiais etc. Poderíamos extrapolar e estender tal restrição às mulheres em idade fértil, que estão sujeitas à maternidade e consequente licença. De todo um universo social, composto por pessoas dotadas de histórias e condições diversas, as pessoas obesas foram selecionadas arbitrariamente, sem qualquer lei ou resolução que fundamente juridicamente tal seleção. Novamente, discriminação.
Sou obeso. E sou plenamente capaz de exercer a profissão de professor. Minha formação acadêmica provém de uma das mais conceituadas instituições de Ensino Superior do país e, posso garantir-lhes, é absolutamente sólida. Tenho a dedicação necessária para lecionar, a ponto de superar um concurso público longo e estressante e o fato de a carreira magisterial ser há muito desvalorizada; tenho a vontade necessária, a ponto de abrir mão de um emprego estável cujos rendimentos são maiores do que aquilo que receberei na rede; tenho plena convicção de que a carreira do magistério é a mais nobre de todas as profissões e que não será nos tribunais ou nos salões atapetados dos gabinetes e escritórios, mas nas salas de aula espalhadas pelos rincões deste país, que transformaremos nossa nação na potência tão sonhada pelas gerações que nos antecederam. Não pensem por um único momento que exista qualquer alternativa de desenvolvimento que passe ao largo dos professores. Não há.
Caros Secretários, é um fato que sou obeso. No entanto, antes disso sou um brasileiro que ama sua terra e que quer fazer sua parte. Parem de atrapalhar e se afastem. Gordos ou magros, nós professores temos muito que fazer. Temos um país inteiro para construir.

Grato por sua atenção,

Pedro Ramos de Toledo , 34
Professor de História nomeado para a Rede Pública de Ensino do Estado de São Paulo e Obeso.

Mais informações: http://www.revistaforum.com.br/noticias/2011/02/05/estou_acima_do_peso._e_agora_/