No andamento da
pesquisa "BRINCADEIRAS DE MUITOS
TEMPOS E LUGARES: PROJETO DE RECUPERAÇÃO, SISTEMATIZAÇÃO E SOCIALIZAÇÃO DAS
MEMÓRIAS DA INFÂNCIA DOS FUNCIONÁRIOS DA CRECHE PRÉ-ESCOLA CENTRAL SAS/USP e
ESCOLA DE APLICAÇÃO DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA USP", os pesquisadores
indicaram para leitura do grupo a tese de doutorado Jogos,
brinquedos e brincadeiras – Trajectos intergeracionais, de autoria
de Alberto Nídio Barbosa de Araújo e Silva, defendida na Instituição da
Educação da Universidade do Minho, Portugal.
Resumo:
Os jogos, os
brinquedos e as brincadeiras são ferramentas imprescindíveis na construção da
cultura lúdica das crianças. Nas práticas lúdicas das crianças concretizase,
quase desde o
dealbar de cada vida, uma boa parte do processo de socialização do indivíduo,
vivido de forma autónoma pelos grupos de pares, gerador de competências
sociais, de
conhecimento do meio, de convivência, de partilha, de resiliência, de
cumprimento de regras, de fruição de prazer, em suma, de enfrentamento das mais
diversas e, por vezes, adversas situações vivenciais.
A tese Jogos,
Brinquedos e Brincadeiras – Trajectos Intergeracionais sustenta-se
teoricamente na Sociologia da Infância para identificar a presença do lúdico no
quotidiano das crianças, procurando assinalar contextos e realidades sociais
distintas e
discernir, na
travessia dos tempos, as formas, os processos de transmissão, as ameaças e as
possibilidades de brincar das crianças.
Através de uma
investigação de natureza qualitativa, com a realização de entrevistas a
membros das
mesmas famílias de quatro gerações (filhos, pais, avós e bisavós),
estabelecem-se rotas de acesso ao conhecimento sobre os modos como os jogos, os
brinquedos e as brincadeiras têm realizado o seu percurso histórico, sobre os
espaçostempos da brincadeira, e sobre as práticas de permissão, transgressão e
(re)produção do brincar, para, por meio desse conhecimento, aclarar as
configurações sociais, atravessadas por desigualdades sociais e pela
diversidade cultural, que permitem e ou inibem a afirmação das crianças como
actores sociais e sujeitos produtores de cultura.
Num mundo em
mudança global muito acentuada, a cultura lúdica das crianças não poderia nele
passar incólume nas suas seculares práticas. Identificar velhos e novos padrões
lúdicos pode contribuir para equilibrar uma balança que, cada vez mais, parece
pender para a
perda do sentido de autonomia do movimento, da criatividade e do próprio corpo
da criança e para a subordinação a formas estandardizadas e mercantis do
brincar.